Archive for the ‘Antropologia Urbana’ category

Flip debate papel do urbanismo para a construção de uma cidade mais democrática

1 de Agosto de 2014

Paraty

PARATY – O papel do urbanismo na construção de uma cidade mais democrática, acessível e menos desigual foi o tema da primeira mesa nesta quinta-feira (31), no segundo dia da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2014.

Para a sul-africana Rene Uren, que é conselheira da cooperação alemã para o desenvolvimento sustentável na área de prevenção de crime e da violência na África do Sul, se a comunidades oferecer dignidade, infraestrutura, equipamentos sociais e serviços básicos, a presença policial não precisa ser ostensiva.

“As moradias feitas pelo governo [sul-africano] têm cerca de 20 metros quadrados, sem paredes internas, que abrigam muitas vezes famílias de oito pessoas”, explicou ao citar que as condições precárias contribuem para a proliferação de gangues e assassinatos. “Na minha comunidade 33 mil pessoas moram em uma área planejada para 3 mil pessoas. Temos uma média de dez mortes a cada 11 dias”, a maioria de adolescentes, ressaltou.

Um dos fundadores do Observatório de Favelas, que desenvolve trabalhos sociais na periferia do Rio de Janeiro, Jailson de Sousa acredita que as políticas públicas de segurança aplicadas em favelas tem como eixo a repressão e a polícia atua apenas para combater a criminalidade. A lógica de guerra e combate está arraigada nos policiais que entram para a corporação, argumentou ele. “Eles não querem ser mediadores de conflitos, trabalhar a pé”, disse. “Precisamos construir um modelo de segurança que incorpore mais a população local que veja a segurança como um direito do cidadão”.

A antropóloga Paula Miraglia, especialista em temas como prevenção da violência, segurança pública e urbanismo, acredita que um dos desafios das cidades hoje é promover a conexão entre a periferia e o centro. Para ela, a violência é resultado das desigualdades estruturais que ainda não foram superadas no país e de um modelo de desenvolvimento que não considera a segurança como um direito, mas como um privilégio garantido pelo setor privado. “As cidades brasileiras não podem ser pensadas como negócio, ” defendeu ela.”Temos uma das maiores populações carcerárias do mundo e ainda assim a violência não para de crescer”, disse.

“É necessário ter um modelo de crescimento que agregue e beneficie o conjunto das cidades, que não seja excludente”, disse. Para a antropóloga, cidades mal planejadas geram e perpetuam desigualdades e consequentemente a violência. “Belo Monte virou uma grande cracolândia”, comentou ao citar a construção da Hidrelétrica de Belo Monte como exemplo de grandes empreendimentos que provocam impactos negativos nas cidades pela falta de planejamento.

FONTE: DCI

Morreu o antropólogo Gilberto Velho

15 de Abril de 2012

Morreu na madrugada deste sábado, 14 de abril, aos 66 anos, o antropólogo Gilberto Velho. Primeiro profissional da área a ingressar na Academia Brasileira de Ciências (em 2000), dormia em seu apartamento, em Ipanema, quando sofreu um AVC. Gilberto apresentava problemas de cardiopatia. O enterro é no domingo, na capela 3 do Cemitério São João Batista, em Botafogo. Gilberto era divorciado e não deixa filhos.

Ler notícia completa aqui: O Globo

Perfil de Gilberto Velho: Academia Brasileira de Ciências

Rio de Janeiro: Pesquisa resgata cultura de comunidade quilombola

15 de Dezembro de 2009

Nem só da prática de subsistência e do artesanato vivem algumas comunidades quilombolas do estado do Rio de Janeiro. A do Campinho da Independência, localizada na cidade histórica de Paraty, vem procurando resgatar as práticas culturais de seus ancestrais para que as futuras gerações não percam a sua identidade.

Para fortalecer esse movimento, a antropóloga Carla Dias – que à época do trabalho estava na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e hoje é pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – desenvolveu o projeto O Caminho das Coisas – Estética e Cultura Numa Comunidade Quilombola, apoiado pela FAPERJ, por meio do Auxílio à Pesquisa. 

O objectivo principal do trabalho foi reconhecer, entre as práticas e saberes locais, os caminhos actuais da tradição e da cultura quilombola. Este foi o foco das discussões, articulações e base de todas as acções, previamente negociadas com a Associação de Moradores do Campinho (AMOC). A estratégia assumida pela equipa foi a de utilizar as práticas construtivas e os meios de representação plástica e gráfica como instrumentos de interacção social.

Para tanto, foi desenvolvida uma série de oficinas, como as de construção com bambu, desenho de observação, ilustração, animação e fotografia. Com isso, pretendia-se promover a aproximação entre os grupos, misturando pesquisadores, estagiários, integrantes da comunidade e as crianças participantes das oficinas.

Na primeira semana da pesquisa, Carla e sua equipa começaram o trabalho com uma oficina de desenho.

– Decidimos iniciar com esta atividade para conquistar a confiança dos pequenos e entender o que era significativo para eles naquele espaço. Tudo o que aparecia nos desenhos se confirmou em nossas conversas com as crianças. Quando perguntávamos sobre o local de sua moradia, por exemplo, as respostas eram “depois de uma árvore, depois da igreja”. Pudemos perceber, assim, que todos aqueles marcos territoriais estavam ligados ao que tinha muito valor para aquelas crianças – explica.

Na oficina de construção com bambu, as crianças aprenderam a erguer uma casa. Mas desconstruir também fez parte do projecto. Contudo, a oficina mais surpreendente foi a de fotografia. Com todo o grupo dividido em pares, um ficava com a máquina e o outro com bloco de apontamentos, para anotar tudo o que fosse fotografado. Depois de uma hora, as crianças revezavam os seus papéis.

– O resultado foi maravilhoso. Elas nos surpreenderam porque aprenderam rapidamente a utilizar as máquinas digitais e todos os seus recursos. A princípio, os pesquisadores foram bastante fotografados. Depois, elas também se fotografaram, capturavam partes distintas do corpo. Achei esse detalhe importante: era como se usassem aquele recurso para se ver. Árvores, estradas e cachoeiras também foram imagens recorrentes, fotografadas de ângulos muito distintos e interessantes – entusiasma-se a antropóloga. 

De acordo com a pesquisadora, depois da estada na comunidade, quando viram o resultado, todos ficaram simplesmente maravilhados com a quantidade de informações obtidas.

– Enquanto estávamos no Campinho, não pudemos ver todas as fotografias. Também não imaginávamos que encontraríamos tantos vídeos. Um aspecto curioso, que eu particularmente não esperava, foi ter encontrado tanta foto de céu aberto – conta.

Outro ponto importante que ela pode perceber foi a preocupação das crianças em mostrar o seu próprio universo aos pesquisadores.

– Num dos vídeos havia um diálogo entre duas meninas: “Vamos correr, porque a gente precisa mostrar tudo o que temos aqui.” Achei curiosa a preocupação que as crianças tiveram em revelar, com seu olhar, tudo o que era importante para elas – detalha 

A antropóloga também descreve outro trecho de vídeo que achou interessante.

– Um menino levou a máquina para casa e filmou a novela que passava na televisão. No banheiro, ele capturou a canalização, o autoclismo, a sanita. Na verdade, ele preocupou-se em mostrar objectos que, para ele, significavam valores. E eu pude reflectir sobre como objectos considerados triviais para muitos, pode ter um significado estético. Pude perceber que aquilo era de uma beleza surpreendente para aquela criança. E não é o valor em termos funcionais. Na verdade, acabamos por ver beleza em objectos que jamais imaginamos, em movimentos do corpo, na maneira desse andar, no modo de construir, no uso quotidiano das coisas e formas que eles valorizam. Tudo isso, na verdade, fala-nos do significado que essas crianças atribuem às coisas – explica a pesquisadora.

Essas crianças vivem entre dois mundos diferentes. Um deles caracterizado pela vida na comunidade, carregada de histórias, heranças culturais e natureza. O outro representado pelo lado externo, pela cidade de Paraty, nas proximidades, e capturado pelas telas de televisão. Mundos diferentes, mas que, pelo menos entre as cerca de 30 crianças que participaram das oficinas, parecem não entrar em conflito. Nenhum desenho animado ou anúncio de brinquedo de última geração parece desviar a atenção dos pequenos quando o assunto é colher e comer jaca, sua brincadeira predilecta.

– Um dia, caminhando com as crianças para iniciarmos mais uma oficina, uma delas avistou uma jaqueira carregada. Elas não pensaram em mais nada, inteiramente mobilizados em subir na árvore e pegar as frutas. A meninada tem uma técnica toda especial para pegar jaca. Quando eu digo que isso é brincadeira, é porque eles fazem isso juntos, rindo, conversando. E também saboreiam a fruta juntos, como se fosse uma festa. Naquela ocasião, eles comeram, por incrível que pareça, dez jacas – conta.

Da permanência da equipa na comunidade, resultou uma vasta quantidade de pinturas e desenhos animados, feitos a partir dos registos de vídeo e fotos clicadas pelas crianças e pelo grupo de pesquisadores, além dos depoimentos gravados em vídeo. Com base nesse material, foram produzidos o livro de fotografias O Olhar das Crianças da Comunidade do Campinho, com falas das crianças apresentando o lugar e sua cultura, além de um conjunto de painéis em tecido, sobre temas determinados pela associação de moradores, intitulado Movimento Quilombola, Griôs, Sustentabilidade, Cultura, Território e Nova Geração, para exposição.

FONTE: Agência Brasileira de Notícias

Todos os sotaques de Lisboa num festival

30 de Novembro de 2009

Já não constitui novidade. Nos últimos anos Portugal, em particular Lisboa, foi tomando consciência de que a sua paisagem humana estava a modificar-se. Está mais diversa. Começou com a emigração africana, depois a brasileira e, mais recentemente, a do Leste da Europa.

Esse panorama, em temos culturais, tem sido reflectido na actividade de uma série de agentes que se movem pelas diversas áreas criativas. Entre os eventos que têm tentado enquadrar esta realidade encontra-se o Lisboa Mistura, uma ideia e organização da associação Sons da Lusofonia, que conhece a sua terceira edição.

NOTÍCIA COMPLETA: Jornal Público

Antropólogo Olivier Mongin critica a megalomania da arquitetura e a falta de espírito urbano do urbanismo contemporâneo

23 de Novembro de 2009

Aos 58 anos, o filósofo e antropólogo francês Olivier Mongin, director da conceituada revista Esprit, resolveu assumir a crítica do urbanismo contemporâneo, escrevendo um livro em defesa do espírito da urbe. Ele esteve em São Paulo para uma palestra e o lançamento de A Condição Urbana – A Cidade na Era da Globalização (Estação Liberdade).

Assustado com o crescimento desordenado das cidades, Mongin alerta para a necessidade de uma “cultura urbana dos limites”, reforçando a recomendação da professora de urbanismo Françoise Choay – ela defende que urbanização não é sinónimo de cidade e que a experiência de um lugar passa necessariamente por uma antropologia do corpo.

Em entrevista à reportagem, Mongin falou dessa urgência de aceitar a experiência urbana como corporal para reinventar o prazer de sentar nas praças, hoje tomadas por projectos arquitectónicos megalomaníacos.

Edificar, diz o pensador, é governar, não administrar, mas essa lição foi esquecida por quem projecta prédios na tela do computador. A nova cultura urbana, diz, marca uma ruptura com o urbanismo dos anos 1950 a 1970, que se confrontou com a moradia de massa e levou à construção de blocos e cidades de concreto.

Hoje, segundo Mongin, deseja-se, antes de tudo, reencontrar o sentido do lugar, da experiência urbana, o que conduz à necessidade de uma luta pelos lugares “onde o espírito do urbano ainda faz sentido”.

Falar isso num momento em que os governantes brasileiros estão contaminados pelo discurso da “global city”, da cidade globalizada – especialmente o Rio de Janeiro como futura sede da Olimpíada – é quase um ato de subversão.

AUTOR: António Gonçalves Filho (O Diário Online)