Archive for the ‘Antropologia forense’ category

Encontrados vestígios de canibalismo na Alemanha

14 de Dezembro de 2009

Uma vala fúnebre com sete mil anos e mais de 500 esqueletos humanos foi encontrada em Herxheim, uma pequena localidade no Sudoeste da Alemanha. A descoberta poderia passar despercebida não fosse o facto dos esqueletos – alguns de crianças e fetos – aparentarem ter servido para a prática de canibalismo durante o Neolítico.

“Detectámos padrões no corte dos ossos em animais que foram cozinhados em espetos. E descobrimos esses mesmos padrões nos ossos humanos encontrados em Herxheim”, explicou à BBC Bruno Boulestin, o antropólogo que lidera a equipa da Universidade de Bordéus, em França, responsável pela descoberta. 

Os peritos acreditam que, durante décadas, centenas de pessoas foram comidas e o restos dos cadáveres depositados em valas. O canibalismo, acreditam, acontecia em cerimónias em que eram mortos escravos, prisioneiros de guerra e outros “candidatos a sacrifícios rituais”. A teoria avança, por outro lado, que estas formas de violência terão ocorrido na Europa Central num contexto de crise social e política. “É uma hipótese difícil de provar, mas existem indícios de que várias centenas de pessoas terão sido comidas durante um curto período de tempo”, avança Bruno Boulestin. O artigo que explica a teoria foi publicado na edição deste mês da revista de antropologia “Antiquity” e defende que a pequena localidade alemã apresenta “provas muito raras” de que o canibalismo foi prática na Europa no início do Neolítico, numa altura em que a agricultura começava a expandir-se na região central do continente europeu e em que existiam épocas de fome prolongadas. 

A investigação começou em 1996. As primeiras escavações prolongaram-se até 1999. O sítio voltou, depois, a ser escavado entre 2005 e 2008.

MAIS INFORMAÇÃO: Jornal I

Identificados restos de espanhol desaparecido na ditadura argentina

4 de Dezembro de 2009

O corpo do espanhol Manuel Coley Robles, sequestrado em 1976 pela ditadura argentina (1976-83), foi identificado durante a exumação realizada num cemitério público. A identificação foi feita pela justiça argentina com a cooperação da equipa de Antropologia Forense, como parte da Iniciativa Latino-Americana de Identificação de Desaparecidos.

Segundo a Corte Suprema de Justiça, Coley Robles nasceu no dia 29 de Junho de 1934 em Barcelona e vivia na Argentina, onde era delegado sindical da empresa Rigolleau, localizada em Berazategui. O homem tinha sido raptado na sua casa, no dia 27 de Outubro de 1976, por um grupo armado de 20 pessoas que se identificaram como pertencentes ao exército argentino, na hora do jantar, na frente da esposa e dos filhos pequenos.

Manuel passou por vários centros de extermínio da ditadura, entre eles o chamado “Pozo de Quilmes”, de acordo com depoimentos de sobreviventes. Segundo a justiça, o corpo apresentava múltiplas marcas de bala e a morte aconteceu em Fevereiro de 1977. A ditadura na Argentina deixou 30 mil desaparecidos.

FONTE: Portal Terra

Determinar a idade dos mortos e dos vivos sem papéis

23 de Novembro de 2009

A antropóloga forense Eugénia Cunha

Idade, estatura, causa e forma de morte? Eis algumas das perguntas a que a antropologia forense tenta dar  resposta. Respostas sempre com um  intervalo de aproximação, alerta Eugénia Cunha, consultora do Instituto Nacional de Medicina Legal.

“Faz-lhe confusão o cheiro?” É a pergunta de Eugénia Cunha, antropóloga forense. E justifica: “É que esti- ve a macerar os ossos!” Assim, de chofre, mal se entra na sua sala de trabalho na delegação sul do Instituto de Medicina Legal. O cheiro é desagradável, mas tem de se suportar. Os ossos que esteve a macerar são de um homem que foi encontrado no Algarve e que terá morrido de forma violenta. Homicídio!

Macerar ossos significa cozê-los ligeiramente em água, para que se possa retirar os tecidos moles que os envolvem. Só depois é que são observados, analisados, parte por parte, osso por osso, e radiografados, para se poder estimar a idade, a estatura (através do fémur), a origem geográfica (afinidades populacionais) e, eventualmente, o modo e a causa de morte. Em resumo, dar uma identificação ao corpo, muitas vezes encontrado anos depois da morte e em avançado estado de decomposição.

“Mas não pense que podemos dizer que o corpo pertence a um indivíduo com 57 anos, 1,76 m e que nasceu em Portugal. Podemos chegar a intervalos de aproximação, o que, também, depende da idade do indivíduo e do tipo de vida que levou. Não pense que é como nas séries televisivas. Não é assim”, adverte Eugénia Cunha. Isto porque é inevitável a comparação com Bones Temperances, a famosa antropóloga forense da série Ossos, que consegue sempre identificar ao pormenor as vítimas que estuda.

É impossível dar uma informação assim tão precisa e estamos em Portugal, onde os antropólogos ainda não vão ao local do crime e não têm uma base de dados da PJ tão sofisticada, nem nada que se pareça.

O corpo em causa será o de um homem que desapareceu há seis meses. Há uma ficha de desaparecidos da PJ em consta o nome de um indivíduo com características semelhantes ao corpo encontrado.

Mas a antropóloga forense prefere desconhecer os dados biográficos dos corpos que analisa. Para testar ao limite as capacidades da ciência na descoberta de informação que ajude a deslindar uma morte.

No caso em concreto, o corpo está bem tratado, estima-se que seja de um indivíduo rico e preocupado em manter-se bem fisicamente.

Esse dado vai tornar mais difícil apurar com rigor a sua idade. E o que o perito poderá dizer é que a pessoa terá entre 55 e 65 anos, por exemplo, a estatura aproximada e que será europeu.

A identificação dos corpos é uma das área de intervenção de Eugénia Cunha, consultora de antropologia forense do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML) desde 1997 e responsável pelos casos de antropologia forense da delegação Sul desde 2004.

É chamada sempre que é encontrado um corpo e se suspeita que tenha havido crime. E muitas das situações são de sem-abrigo, o que significa que este não é procurado por familiares, tornando quase impossível a sua identificação.

Mas os antropólogos forenses não estudam apenas os mortos. São cada vez mais chamados a intervir para investigar as características de indivíduos vivos mas que não possuem documentos.

Nestes casos, a estimativa da idade implica a aplicação de métodos que se baseiam em várias alterações dentárias e ósseas.

Os cálculos tornam-se mais fiáveis para as crianças e jovens, cujo crescimento é acompanhado por uma evolução clara em termos dentários.

“Quanto mais velho é um indivíduo, mais falíveis são os métodos usados na determinação da idade, remetendo para um intervalo tanto mais amplo quanto mais idoso for o indivíduo em causa”, sublinha Eugénia Cunha.

Enquanto a pessoa envelhece, não só as capacidades físicas vão diminuindo como os ossos se deterioram e a estrutura óssea se altera. Não são precisas rugas, para que um antropólogo possa chegar a conclusões sobre a idade.

E, sabendo-se que as socieda-des, sobretudo as europeias, estão cada vez mais envelhecidas, o desafio que se coloca à disciplina, sublinha Eugénia e Cunha, é o desenvolvimento de métodos que permitam distinguir indivíduos com 70, 80 e 90 anos.

Autoria: Céu Neves (Diário de Notícias)